Driblando o machismo no futebol
Kayra Miranda
Muitas das mulheres que têm o sonho de serem jogadoras de futebol profissionais se veem divididas entre viver um sonho como profissão ou ter um trabalho bem remunerado, sendo realmente reconhecidas como profissionais e sofrendo menos preconceitos da sociedade. É nesse impasse de vida que muitas mulheres abandonam o sonho e encontram-se à mercê da realidade que é praticamente imposta a elas, vivendo uma jornada tripla no meio de um turbilhão de afazeres e, ainda, serem jogadoras de futebol.
A jogadora de futebol e bacharel em Direito Thaís Ribeiro, 27 anos, teve que se decidir entre seguir o futebol como profissão ou seguir uma carreira acadêmica. Ela relata que o problema sempre foi o patrocínio e que essa jornada tripla atrapalhava muito dentro de campo, pois caso tivessem um bom apoio financeiro não precisariam se dividir entre os estudos, um segundo trabalho e cuidar da casa.
Quando tínhamos campeonato, por exemplo, era muito difícil as empresas em que trabalhávamos liberar as atletas para viajar
Thaís Ribeiro
A jogadora ainda completa que se as atletas capixabas tivessem mais apoio das empresas ou do governo para que pudessem se dedicar integralmente ao futebol feminino, o esporte estadual seria reconhecido nacionalmente.
Além da falta de patrocínio, um dos problemas é a falta de oportunidade dentro do esporte. Não basta o talento com a bola, as atletas têm que saber driblar os desafios no futebol apenas por serem mulheres. A estudante de Jornalismo Larissia Nobre, 26 anos, diz que a falta de oportunidade foi um divisor de águas na vida. Nesse momento, Larissa precisou escolher entre seguir uma carreira profissional no futebol ou uma carreira acadêmica, pois não teve as oportunidades que a levariam a ter um futuro dentro do esporte.
A treinadora Kerzia Railane, 25 anos, atualmente comanda dois times, um de categoria sub10 e outro de categoria adulta. Ela diz que já chegou a usar a lanterna do celular para iluminar o campo de treino para o jogo não ser paralisado, mas não vê razões para desistir do esporte.
Tenho muito incentivo e apoio dentro de casa, com meus amigos e em todos os locais que atuo. Eu literalmente respiro futebol
Kerzia Railane
O professor universitário Vitor Nunes interpreta que há uma tendência histórica da sociedade em colocar certas profissões como masculinas e outras como femininas. O exemplo é o futebol em que a tendência é ser uma profissão predominantemente masculina e, por esse motivo, muitas vezes é o que causa espanto e também comentários preconceituosos. O preconceito está enraizado como questão cultural, porém há um grande movimento por parte das mulheres para quebrar esse padrão.
Vitor Nunes ressalta ainda como a sociedade pode dar mais visibilidade ao futebol feminino. Ele explica que as pessoas precisam ter mais consciência das potencialidades das mulheres nas diferentes áreas de atuação profissional e nas diversas modalidades de esporte. O professor afirma ainda que a sociedade deve criar condições na educação escolar para que, desde a infância, as mulheres possam entender as possibilidades disponível a elas em todo mercado de trabalho.
Edição: Karol Costa
Foto do Destaque: Kayra Miranda