A importância da inclusão e da discussão de temas relacionados à LGBTfobia no ambiente escolar

Nathanael Rodor

Conviver harmoniosamente com pessoas e culturas diversas é uma atitude que requer o conhecimento de uma variedade de conceitos que compõem a espécie humana. No campo da educação, os caminhos percorridos são e sempre foram tratados de acordo com fatores sociais, culturais e políticos. Além disso, é impossível compreender aspectos de uma nova cultura sem aceitar as diferenças entre as pessoas e os valores positivos do conhecimento que podem ser adquiridos.

Um estudante homossexual de 15 anos alegou que não se sente confortável para expressar a sexualidade dentro da instituição de ensino onde estuda. Segundo o estudante, é comum se deparar com situações LGBTfóbicas e raramente alguma atitude é tomada.

Ano passado houve um ato transfóbico vindo de um garoto da minha sala para meu amigo. E nada foi feito

Estudante anônimo

Outro estudante homossexual, de 16 anos, disse já ter sofrido discriminações dentro do ambiente escolar. O jovem relatou também que em nenhuma das situações os funcionário tomaram uma atitude. O adolescente afirmou ainda que na escola em que estuda, os professores não entram no assunto “diversidade sexual” ou “LGBTfobia”. Segundo ele, se essa discussão acontece é por iniciativa dos próprios alunos e entre eles mesmos.

Estudante, que preferiu não ser identificado, alega ser comum situações LGBTfóbicas nas escolas (Foto: Nathanael Rodor)

A socióloga Michele Sant’Ana, 38 anos, afirmou que a sociedade é preconceituosa, extremamente conservadora e há uma grande dificuldade de se compreender as diferenças. A socióloga explicou que nas escolas há uma grande dificuldade de se falar sobre diversidade sexual porque as famílias muitas vezes acreditam que falar sobre o assunto incentiva o aluno a se tornar homossexual e veem isso como algo ruim.

Michele afirma que o único caminho para mudar essa realidade é a educação voltada para o ser humano quanto um indivíduo capaz de transformar a sociedade. A socióloga explicou que isso depende de políticas públicas que incentivem o professor a ter uma formação voltada para os direitos humanos.

O professor ensina aquilo que ele aprende

Michele Sant’Ana

Relatos

O professor Júnior Xavier, 34 anos, afirmou que não é complicado trabalhar o assunto com a geração atual, mas que a dificuldade está na geração anterior. O professor é homossexual e explicou que, quando foi aluno, a situação era bem mais complicada. Xavier disse que, por trabalhar com menores de idade, dependendo da situação, como, por exemplo, a questão do nome social de alunos trans, a escola não pode tomar uma atitude antes de comunicar a família.

Ainda que seja de nossa vontade, não podemos passar desse limite

Júnior Xavier

A professora Meire Elen Amorim, 41 anos, alegou que em seus anos de profissão já presenciou muitos atos LGBTfóbicos, e que sempre tenta resolver isso por meio da conversa. Meire explicou que o primeiro passo para se discutir a diversidade sexual é conscientizar os alunos da importância desse debate. Segundo a professora, a escola precisa ter essas discussões no conteúdo programático normal.

É papel da escola educar e formar cidadãos

Meire Elen Amorim

A pedagoga Fabiana Xavier, 47 anos, afirmou que diversidade sexual é um tema delicado para as famílias e, por isso, é difícil trabalhá-lo dentro de uma escola. Fabiana explica que a escola tem caminhos a trilhar, sabe do seu papel social, mas é preciso tratar esses assuntos com cuidado para não afugentar as famílias e para que os alunos possam participar dessas discussões. “Para que o assunto possa ser discutido numa escola, o primeiro passo é ter isso como perfil da instituição, de modo que não seja um tabu”.

Edição: Karol Costa
Foto Destaque: Nathanael Rodor