Rubem Braga e a terra natal
Eric Zanotelli
A cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, tem uma peculiaridade cultural: além de ser o berço do cantor Roberto Carlos, apresentou ao Brasil o inventor da crônica moderna, Rubem Braga. Com uma carga cultural de renome, é de se esperar que a cidade preserve algo para os interessados em história. O segundo texto da série especial “Rubem Braga” vai abordar os espaços culturais que carregam o legado do Sabiá da Crônica, carinhoso apedido do cronista Rubem Braga. O primeiro texto da reportagem apresentou a vida do autor. Confira o texto Rubem Braga: o Inventor da Crônica Moderna.
CASA DOS BRAGA
Para os amantes da literatura, o município abriga a Casa dos Braga. Continuando as homenagens ao autor, a prefeitura nomeou o Teatro Municipal com o nome do cronista e promove a Bienal Rubem Braga, um evento anual para difundir a leitura e o conhecimento.
A antiga residência da família Braga, localizada no centro da cidade, abrigou grandes nomes do cenário capixaba. Além de ser a moradia daquele jovem garoto que viria a ser reconhecido como o maior cronista brasileiro e autor de diversos livros, acolheu também o irmão Newton Braga, poeta e jornalista; o pai, coronel Francisco Braga, primeiro prefeito de Cachoeiro de Itapemirim; a mãe e os demais irmãos: Jerônimo, Carmozina, Armando, Yedda e Anna Graça.
O antigo casarão de 16 cômodos, em estilo romântico, foi adquirido pela prefeitura em 1985 e tombado como Patrimônio Histórico Municipal pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC). Posteriormente, o espaço foi inaugurado como Centro Cultural Casa dos Braga, em 1987, e nesse mesmo ano Rubem Braga recebeu a homenagem pessoalmente ao lado da família, em Cachoeiro.
Até 2014, o local foi sede da Biblioteca Pública Municipal. Em 2017, a Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo (Secult) restaurou o espaço.
A restauração abrangeu a recuperação dos ladrilhos da entrada principal e de peças de madeira, novas instalações elétricas e hidráulicas, instalação de ar-condicionado central e uma plataforma elevatória que permite o acesso de pessoas com mobilidade reduzida aos espaços internos da casa. Após as últimas mudanças, a Casa dos Braga tornou-se um Museu de Preservação de Memória da Família, sendo palco de eventos culturais como saraus e lançamentos literários.
O interior do imóvel apresenta um minimuseu. Os visitantes têm acesso a algumas publicações antigas, documentos, imagens, livros, obras de arte e mobiliários do início do século XX doados pelos familiares. No local, os interessados também podem conferir exemplares do jornal da família, o Correio do Sul, além de conhecerem os manuscritos de Newton Braga.
Exposições
O Museu possui duas exposições. A primeira, “Minha cidade, minha casa”, apresenta os cômodos utilizados no convívio familiar e social dos antigos proprietários, objetos originais da época, como lustres, máquina de costura, quadros, estantes e diversos móveis. Um dos itens mais raros presentes na exposição é o relógio de parede Ansonia Clock, do século 19. O relógio faz parte do acervo original da família Braga e antes da reforma o item não participava da exposição. Anteriormente, o objeto estava em posse de familiares em outro estado.
Já a segunda exposição, “Rubem e seus amigos artistas”, mostra representações do universo do cronista a partir do olhar dos amigos. É possível ver peças como o retrato de Rubem pintado por Portinari e desenhos da viagem dele pelo Espirito Santo com Carybé, pintor de nacionalidade argentina, naturalizado brasileiro e amigo próximo do cronista.
Entre as imagens acima é possível ver retratos originais da época em que toda a família Braga estava viva, incluindo: a fachada original da casa em 1913, o veículo que utilizavam e o momento, entre a década de 1940 e 1950, em que um dirigível sobrevoava a cidade de Cachoeiro de Itapemirim (Fotos: Divulgação/Leonardo Duarte)
Um dos pontos altos da exposição é encontrar a “Olivetti”, uma das famosas máquinas de escrever que exerceram o trabalho, em incansáveis dias e noites, de dar a vida, pelas mãos dos Braga, aos mais belos textos e crônicas.
Ao fundo da Casa existe a “Praça da Poesia”. O espaço apresenta um jardim destinado aos leitores das crônicas de Rubem Braga e poesias de Newton Braga.
(Foto: Divulgação/Leonardo Duarte)
Edição: Eric Zanotelli
Imagem do destaque: Rubem Braga na Avenida Beira Rio, em Cachoeiro de Itapemirim. Ao fundo, é possível ver o Pico do Itabira, uma formação rochosa famosa na região sul do Espírito Santo (Foto: Divulgação)