Representatividade negra que passa em branco
Douglas Motta
Assistir a programas televisivos e se identificar com o apresentador, o jornalista, o comentarista ou a pauta em questão parece algo normal no cotidiano dos brasileiros. Será? Para negros e negras no Brasil a realidade não é bem assim. Eles sentem – literalmente – na pele o fato de não se sentirem representados nos mais variados formatos de mídia. E mesmo com o avanço dessa questão nos últimos anos, as figuras de autoridade, inteligência e beleza, por exemplo, ainda são simbolizadas na pele branca.
A jornalista e apresentadora do telejornal regional “Tribuna Notícias” do Espírito Santo, Bruna Maria, enxerga a falta de representatividade como uma junção de fatores. Segunda ela, a manutenção de padrões estéticos e a preferência dentro das próprias organizações para manter o padrão são duas razões de maior relevância. A jornalista ainda questiona se é realmente vantajoso aos os donos de grandes empresas midiáticas que o negro tenha voz.

Bruna Maria enfatiza e correlaciona a importância da representatividade, principalmente, com o sentido inspirador. Para ela, um jovem negro e da periferia não imagina que pode chegar a televisão pelo fato de não ter com frequência a aparição de figuras negras em destaque na mídia. Fato esse que pode causar enorme impacto negativo no processo de inserção na sociedade desse jovem futuramente.
Quem procura explicar isso é o psicólogo Pedro Paulo Toribio. O profissional diz que a criança a partir de 1 ano e meio começa a se desprender da figura de dependência da mãe e permite a si mesma ser impactada pelo meio em que vive. Assim, a criança absorve tudo intensamente: contextos familiares e aspectos culturais e informativos que chegam a ela por meio de desenhos animados, programas televisivos e – de forma mais recente – a internet.
O psicólogo relata ainda que a criança exerce muito as questões lúdicas (ato de se imaginar e se projetar em situações ao qual ela observa em seu meio de vivência) e que esse fenômeno é essencial para o desenvolvimento da personalidade e subjetividade dela. Deste modo, ao praticar a atividade lúdica com base nos produtos midiáticos consumidos, uma criança negra, ao analisar apenas pessoas brancas em posições de liderança, não consegue projetar sua autoimagem reforçada nesses cargos.

Especialista na linguagem dos bastidores, o ex-diretor e chefe de reportagem da Band, Robson Rodrigues, avalia a falta de representatividade negra na mídia brasileira como reflexo de uma sociedade racista. De forma a solucionar esse problema, Robson cita uma mudança de mentalidade, ao longo do tempo, da sociedade acerca dessa questão e, principalmente, o uso de canais de mídia alternativos à televisão, como as redes sociais, a fim de explicitar o debate e tentar mudar o cenário.
Edição: Karol Costa
Imagem do Destaque: Shutterstock