O sertanejo na cultura Capixaba
Kathleen Vieira
A música sertaneja é um ritmo que se tornou muito popular e, hoje, se faz extremamente presente na vida do brasileiro. Assim, não é difícil andar nas ruas e encontrar alguém ouvindo esse estilo musical. Quando se descobre que as primeiras composições desse ritmo são datadas de 1929 é possível perceber como o sertanejo sempre esteve presente na cultura do País, mesmo que não tivesse tanta popularidade como agora. O responsável pelas primeiras composições é o pesquisador, escritor, compositor e humorista Cornélio Pires, que buscava divulgar o modo de vida do caipira por meio da música.
O que começou no século passado como uma forma de divulgar uma vida caipira, modernizou-se com a chegada do sertanejo universitário que trouxe nas letras elementos românticos e urbanos. Para se ter ideia da popularidade desse ritmo no País, basta observar os dados divulgados pelo Spotify, que demonstram que os três estilos musicais mais ouvidos na maior plataforma de streaming do Brasil, em 2021, foram o sertanejo pop, sertanejo universitário e sertanejo. Além disso, o videoclipe mais acessado do YouTube em 2021 é a música sertaneja Batom de Cereja da dupla Israel e Rodolffo.
No Estado do Espírito Santo não é muito diferente do restante do Brasil e a música sertaneja também se faz muito presente no cotidiano do capixaba. O sociólogo e professor Maycon Bernardo afirma que esse estilo musical ganhou força no Estado com uma onda popular na década de 70 quando aconteceu um aumento de músicas do gênero sendo reproduzidas em rádios de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo. Somente a partir da década de 80 que o sertanejo começou a ser aceito como estilo de vida e a ser mais conhecido popularmente, principalmente por conta do sucesso, Fio de Cabelo, cantado pela dupla Chitãozinho e Xororó.
O sociólogo relata que o sertanejo no Espírito Santo encontrou um grande espaço e representa um estilo de vida, sendo que esse estilo já foi integrado de maneira muito sólida dentro do Estado. “A cultura do sertanejo representa uma inserção positiva de outros Estados que nós aceitamos super bem e que efetivamente não vai causar qualquer problema”.
Eu a enxergo como algo positivo e acredito que nós incorporamos e absorvemos a cultura da música sertaneja aqui no Estado como se ela fosse nossa
Maycon Bernardo
O produtor musical Diego Garcez, que trabalha com sertanejo há mais de 15 anos, acredita que o sertanejo contribui muito para a criação de uma identidade musical própria do Estado. “O capixaba tem uma característica muito forte em relação a ritmos e o sertanejo ajuda para que esses estilos sejam criados, visto que ele tem uma grande capacidade de agregar-se a outros estilos. Não somente na letra, mas, também, na composição”, afirma o produtor. Garcez também ressalta que esse estilo musical tem a tendência de crescer ainda mais no Espírito Santo justamente por conta dessa capacidade do sertanejo universitário de juntar-se com outros segmentos musicais.
O cantor Cristian Sullivan, que canta há mais de 25 anos e atua no mercado sertanejo no Estado do Espírito Santo, afirma que a música sertaneja tem uma grande capacidade de se misturar com outros ritmos e também ressalta que o sertanejo vai muito além da música, pois é um estilo de vida.
O sertanejo hoje não é apenas um estilo caipira. Ele é hoje globalizado e cabe vários outros estilos dentro do nicho. O sertanejo tornou-se um mix de estilos, pois abrange e abraça os diferentes estilos
Cristian Sullivan
O cantor Ismail Gonçalves trabalha com música sertaneja desde 2018 no Espírito Santo e diz que a capacidade do sertanejo se adequar ao público o tornou um ritmo muito popular. “Há misturas de sertanejo com funk, com pagode, com eletrônica e por aí vai. Isso fez com que a aceitação do ritmo se tornasse muito grande e, hoje, é possível ouvir sertanejo em um boteco de esquina ou até em mega eventos“, declara o cantor.
A aposentada Maria do Carmo, que é uma grande fã de música sertaneja, relata que cresceu ouvindo esse estilo musical e que logo quando acorda já liga o rádio em uma frequência que só toca música sertaneja. Ela conta que cuida dos afazeres do dia ao som de vários “modões” e de muito sertanejo universitário. A aposentada, também fala que gosta muito desse estilo porque se identifica com a letra de muitas músicas. “Eu gosto de sertanejo porque tem bastante música romântica e também porque muitas letras conseguem retratar diversas fases que já vivi na minha vida, algumas boas e outras nem tanto. Amo a sensação nostálgica que algumas canções desse ritmo me trazem”, revela, com um sorriso no rosto, Maria do Carmo.
Edição: Sofia Galois
Imagem em destaque: Reprodução/Alto Astral