TBT CAPIXABA – Congo Capixaba

Karol Costa

Província do Espírito Santo. 1855. Surge em terras capixabas um gênero musical que mistura culturas de diversos povos: o Congo. Contudo a história não é tão simples. Padre Antunes de Siqueira (1832-1897) relata que a origem das bandas de congo é anterior ao século XIX e que eram conhecidas como “Bandas de Índios”. Entretanto, com a aculturação dos povos indígenas, a formação inicial do que é hoje Patrimônio Imaterial Cultural do Estado foi perdida.

A prática do Congo Capixaba era uma forma dos povos originários cultuarem deuses e santos (Foto/Reprodução: TVE)

A história do surgimento do Congo Capixaba pode não ser exata, mas há uma certeza: ele nasceu como uma forma de manter as tradições vivas e recebendo influências de povos africanos e europeus, o Congo transformou-se em uma expressão cultural única e repleta de diversidade.

Devido a forte evangelização que a Igreja Católica impunha aos povos negros e nativos na época, o Congo Capixaba tornou-se uma forma dessas pessoas cultivarem a fé nos deuses das religiões de matriz africana e indígena ao mesmo tempo em que adoravam, também, os santos da Igreja Católica. Essa influência cristã resultou em uma tradição que dura até hoje: as bandas de congo tocam, principalmente, em festas religiosas, como a de Nossa Senhora da Penha, São Benedito, São Sebastião e São Pedro.

Tambores, caixas, cuícas, reco-reco, casacas, triângulos e chocalhos. Ao tocar desses instrumentos, feitos geralmente com pau oco, ferro torcido, madeira, peles de animais e taquara (espécie de bambu), as bandas de congo cantam as tradicionais toadas, fazendo referências à escravidão, ao amor, à morte, aos santos e ao mar.

“Iaiá você vai à Penha?

Me leva ô, me leva.

Iaiá você vai à Penha?

Me leva ô, me leva.

Eu vou tomar capricho,

Meu bem, vou trabalhar.

Eu tenho uma promessa a pagar.

Essa promessa

Que eu tenho a pagar

É pra Santa padroeira,

Ela vai me ajudar”

Toada de Congo Capixaba
Luccas Martins feat. Banda de Congo Amores da Lua – Iaiá você vai à Penha? (Reprodução: Luccas Martins/YouTube)

O Congo Capixaba ultrapassou as barreiras do folclore e da religiosidade e influencia, até hoje, grupos de música popular. As bandas Casaca e Manimal, entre os anos de 1990 e 2000, inovaram ao trazer instrumentos modernos, como o baixo e a guitarra, para o Congo. Atualmente, existem 66 bandas de congo catalogadas no Estado.

Carnaval de Congo de Máscaras

No século XIX, após a Insurreição do Queimado, negros escravizados fugiram da então localidade de São José do Queimado, na Serra, para o município de Cariacica, fundando o Quilombo de Roda D’Água. Essa migração forçada trouxe para a cidade o surgimento do que hoje é conhecido como o Carnaval de Congo de Máscaras, uma das maiores manifestações culturais de Cariacica.

Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água realizado na última segunda-feira (25) (Foto: Thiago Soares)

Entre as diversas versões sobre como surgiu o Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água, a história mais aceita relata que a manifestação cultural foi criada pelos negros escravizados que não podiam participar da festa em homenagem a Nossa Senhora da Penha. Então, para não serem reconhecidos, eles usavam máscaras e se vestiam com palhas secas de bananeiras. Assim surgiu também um dos principais personagens da cultura cariaciquense: o João Bananeira.

Outra versão conta que, como o Quilombo de Roda D’Água era muito distante da Festa da Penha e o percurso pelas matas era muito difícil, os negros escravizados não conseguiam chegar ao local. A partir disso, eles começaram a homenagear Nossa Senhora da Penha onde moravam, tocando tambores e casacas de casa em casa. Independentemente das versões, o Carnaval de Congo de Máscaras se tornou um costume único no país, que perpetua a história, a tradição e a fé do povo Cariaciquense.

Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água realizado na última segunda-feira (25) (Foto: Thiago Soares)

Atualmente

No dia de Nossa Senhora da Penha, acontece o Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água. Após dois anos sem manifestações presencias por conta da pandemia de Covid-19, os capixabas puderam sentir novamente a energia ancestral que a festividade carrega.

O professor e servidor público Francisco Quenupe participou da celebração após quatro anos distante. As pessoas estavam radiantes. A vibração estava lá no alto! Estávamos todos sedentos por momentos como esse”, afirma. Quenupe completa frisando que essa oportunidade só está sendo possível graças a vacinação. “É um momento de pura alegria e um momento de render graças à vida”, declara.

Carnaval de Congo de Máscaras de Roda D’Água realizado no dia de Nossa Senhora da Penha (Foto: Thiago Soares)

Mesclando culturas e propagando a diversidade, o Carnaval de Congo de Máscaras ganha a cada edição o coração dos capixabas. Em mais de 100 anos de tradição, a conservação dessa manifestação tão genuinamente cariaciquense faz parte do trabalho de Francisco Quenupe. “É um propósito que tenho comigo: trabalhar em sala de aula para que o Congo Capixaba e o João Bananeira sejam conhecidos, amados e respeitados pelo nosso povo”, finaliza.

Edição: Karol Costa

Imagem Destaque: Bruna Firmes/Núcleo de Publicidade do Lacos