A importância da representatividade feminina na política

Ana Clara Gonçalves

Em 1928, Alzira Soriano foi a primeira mulher a concorrer e a se eleger a um cargo político no Brasil. A eleição aconteceu no Rio Grande do Norte após a aprovação de uma lei estadual que não distinguia homens e mulheres nos âmbitos públicos. Esse fato que soa tão distante da nossa realidade ainda reverbera nos dias atuais.

Nos 94 anos que separam 1928 de 2022, poucas coisas mudaram em relação ao tratamento das mulheres no espaço político que segue preeminente com homens. A estudante e militante Eduarda Cândido conta que, ao acompanhar de perto a campanha de uma candidata à prefeitura de Cariacica em 2020, os ataques da oposição eram cotidianos, assim como foi na prefeitura de Alzira.

Camila Valadão: “A maior parte das mulheres do nosso país tem uma origem popular e não consegue chegar ao poder porque as condições de vida não possibilitam que ela faça política” (Foto: Ana Clara Gonçalves)

Alzira disse no discurso de posse que as conquistas abriam uma clareira para a emancipação política das mulheres latino-americanas. Mas, apesar de hoje o parlamento brasileiro ser formado com cerca de 14% de mulheres, a maioria é privilegiada ou vinculada a determinados grupos políticos de interesse.

A Doutora em Políticas Públicas e vereadora de Vitória Camila Valadão explica que essa questão passa por um viés social. “A maior parte das mulheres do nosso País tem uma origem popular e não consegue chegar ao poder porque as condições de vida não possibilitam que ela faça política”, afirma Camila.

A advogada e também vereadora de Vitória Karla Coser conta que mesmo sendo eleita com 60% dos votos válidos sobre o oponente, ainda sente forte deslegitimação do trabalho. “Eu vejo nitidamente uma diferença nas construções das argumentações com relação a mim por ser mulher. Por exemplo, já me mandaram estudar. Nunca vi ninguém falando isso com outros colegas vereadores”, expõe a vereadora.

Atualmente, cerca de 14% do parlamento brasileiro é formado por mulheres (Foto: Ana Clara Gonçalves)

As vereadoras de Vitória comentam que uma política equiparada com igualdade de cadeiras na câmara se mostra uma política mais popular, participativa e democrática. Elas também dizem que é preciso estar atento e forte para popularizar esses espaços, tornar convidativo para os jovens e promover mudanças estruturais em relação ao mercado de trabalho, ensino superior e acesso à informação. Fato que já havia sido defendido por Alzira em 1929. “Que a mulher, esta doce colaboradora do lar, se volte também para colaborar com outra feição na sua obra político-administrativa”, afirmou a prefeita na época.

Outro importante fato já comprovado em pesquisas e discussões é que uma cidade governada e segura para mulheres é uma cidade melhor para todos. O governo de Alzira ficou marcado pela construção de escolas e obras de infraestrutura. Nas palavras de Eduarda Candido, a sociedade é diversa. Então, é necessário que o parlamento e os representantes sejam diversos, também, para que as mulheres de todos os tipos, com pluralidade e diferentes vivências, sejam representadas.

As vereadoras relatam ainda que para quebrar as amarras postas por tantos anos submissas ao patriarcado, a mobilização social, a participação em conselhos de controle social, educação sobre machismo e discussão política são fundamentais para preservar as mulheres em posições de poder.

Edição: Karol Costa

Imagem Destaque: Ana Clara Gonçalves