Encantos históricos e culturais do Centro de Vitória
Victor Sartório
Há 500 anos os colonizadores encontraram a população indígena na “Ilha do Mel”, como a cidade de Vitória era chamada pelos nativos na época. A história da Capitania do Espírito Santo, concedida a Vasco Fernandes Coutinho ainda em 1534, mesmo que incialmente sediada em Vila Velha, se iniciou em Santo Antônio, bairro da capital do Estado, onde os portugueses encontraram segurança para aportar.
O Centro não guarda somente a história de “Vitória”, nome dado após uma batalha contra os índios Goitacazes em 1551, ano da fundação, mas, também, é berço da memória do Brasil Colônia. No período, que se inicia em 1530, Vitória ganhou, na atual região da Cidade Alta, a primeira construção: a Capela de Santa Luzia, ainda em 1534 , anos antes do início das primeiras cidades do Brasil.
A Capela de Santa Luzia ainda resiste ao tempo. Restaurada e estabelecida no Centro de Vitória, assim como inúmeros outros patrimônios históricos e culturais que edificam a história do Espírito Santo e do Brasil. Um desses monumentos é a Escadaria Maria Ortiz, palco de uma batalha, ainda no século XVII, contra piratas holandeses cuja protagonista era uma jovem capixaba de mesmo nome.
O Forte São João também tem a sua história ligada aos ataques piratas do século XVII e por muito tempo foi a fortaleza limítrofe da região. Séculos depois, serviu de sede do Clube de Regatas Saldanha da Gama. Ao longo desses séculos de história, nas terras do Centro, foram se edificando inúmeras construções que caracterizariam e eternizariam aquelas épocas. Muitas delas continuam firmes e fortes – algumas nem tanto –, e outras se perderam na memória, no balaio de reformas, interesses privados e especulação imobiliária.
Para além do turismo histórico, o Centro abriga ainda tradicionais teatros e locais de exposição, como o Carlos Gomes e o Centro Cultural Sesc Glória, bem como seus museus: o Museu das Artes do Espírito Santo (Maes) e o Museu Capixaba do Negro (Mucane). A vida noturna também não deixa a desejar, sendo já tradicionais na rotina da boemia capixaba a Rua 7 e a Rua Gama Rosa.
Ano após ano projetos públicos se propõem a revitalizar o Centro de Vitória. Essa demanda insistente da população, que lamenta o abandono do local, quase nunca sai de forma relevante do papel. Na última década percebeu-se, contudo, algum movimento nessa direção que sinaliza uma esperança: em meados da década passada, cabe lembrar, ensaiaram-se eventos culturais no Saldanha e na Estação Porto, assim como o carnaval de rua que retornou à Beira-Mar, outrora abandonada nessas épocas pelos foliões.
A revitalização do Centro Histórico, com o imenso potencial turístico, econômico e cultural, depende tanto de representantes políticos, quanto de uma população interessada. Um interesse em ocupar e dividir o espaço público, em fazer com que a cidade, com suas ruas, praças e bancos, seja novamente um lugar comunitário, de reunião e de troca de experiências. A memória, que se esvazia junto com a decadência social do bairro, também precisa ser revitalizada na população com incentivos e atrativos em diversos setores.
Foto de destaque: Thiago Soares
Edição: Victor Sartório