A marginalização do hip-hop
Guilherme Marques
O hip-hop é uma cultura criada por imigrantes nos guetos dos Estados Unidos no início dos anos 70 e que ganhou o mundo todo. Ele é constituído pelos elementos: a música Rap (Dj’s e Mc’s), o breakdance (dança) e o grafite (pintura). O hip-hop surge da necessidade de expressar e se divertir num ambiente com criminalidade e violência e quando o movimento começou a ganhar notoriedade foi prontamente rechaçado pelas “elites financeiras” da sociedade.
O hip-hop chegou ao Brasil no início dos anos 80 e não demorou muito para ser absorvido pelas pessoas que vivem à margem da sociedade. Na música “Esse é meu estilo”, o rapper carioca Bk, em parceria com Febem e Akira (2019), cita em um verso a responsabilidade que ele tem de levar a musica hip-hop para os jovens da periferia: “Pro mundo eu tenho cara de bandido, para os que são igual a mim eu sou quem livra eles disso”. Essa frase além de mostrar a importância da cultura, mostra também como essas pessoas que estão inseridas dentro dela sofrem com vários tipos de preconceito.
O historiador, especialista em filosofia política e mestre em educação Eliezer Brasil coloca em pauta o racismo estrutural para explicar o porquê essa cultura é tão desvalorizada. O racismo estrutural pode ser definido como um enraizamento de uma estrutura racista na sociedade. Isso explica o porquê a minoria de pessoas pretas estão em escolas particulares e maioria delas estão em presídios e subempregos.
Ele também explica que entre as décadas de 70 e 80 a cultura brasileira era dominada por uma classe elitista e que por esse motivo a cultura da periferia não tinha espaço no mainstream (grandes gravadoras). “As grandes gravadoras, controladas por pessoas de determinados segmentos sociais, só produziam discos de pessoas que refletiam a visão de mundo dessa galera”, completa o historiador.
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Um dos principais precursores da cultura hip-hop no Brasil, o dançarino de breakdance e ativista social Nelson Triunfo falou das dificuldades que sofreu durante os anos 80 quando ele e uns amigos começaram a dançar em um dos pontos mais movimentados do centro de São Paulo, a estação de metrô São Bento. “Eu sofri todo todos os tipos de preconceitos. Eu tinha cabelo grande e tinha um sotaque forte na época. Aí existia um preconceito por causa desse sotaque nordestino e as pessoas não estavam acostumadas com a dança de rua por gente que vinha da periferia, não foi fácil”, diz o dançarino.
Nelson comenta, também, em que momento entendeu que estava inserido dentro de um lugar que é subvalorizada pela sociedade. O dançarino explica que a vida inteira esteve dentro de uma cultura que vinha do outro lado da sociedade. Além disso, ele comenta sobre a insistência da polícia ficar vigiando ele e os amigos. “Os policiais pegavam muito no nosso pé e a sociedade era muito preconceituosa. Muitas vezes nos bailes as pessoas diziam que queríamos aparecer”, completa Triunfo.
O artista Fredone Fone, 40, nasceu em Bom Jesus de Itabapoana (RJ), mas foi no Espírito Santo que conheceu o grafite e, por consequência, o movimento hip-hop. “O hip-hop ensina a gente sobre auto-organização e sobre reorganização coletiva. Conheci muitos lugares e pessoas sonhadoras. Através do hip-hop, muitos de nós se juntam em prol de uma causa. A gente fez e continua fazendo revolução do nosso jeito”, comenta Fredone.
Sobre a desvalorização da cultura da periferia, o artista é bem direto. “Por ser cultura jovem, preta e periférica, seria inevitável sofrer todo tipo de preconceito. O Brasil é isso: racismo e desigualdade social desde que começou a ser construído sobre terras roubadas. Esse país tem medo da nossa voz. Temem a nossa revolta”, diz o grafiteiro.
Edição: Karol Costa
Imagem Destaque: Divulgação/Semana do Hip Hop