TBT CAPIXABA – Revolta de Reritiba

Karol Costa

A Revolta de Reritiba. Fato histórico, praticamente desconhecido pelos capixabas, recentemente, se tornou objeto de estudo de diversos pesquisadores. O motivo? Arquivos da Devassa, processo inquisitório criado pela Igreja Católica após a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1759, foram descobertos no Arquivo Histórico Ultramarino, em Portugal.

Quadro de Ronaldo Moreira compara o cotidiano de um aldeamento indígena com os de indígenas não-aldeados (Foto: Reprodução/Casa da Cultura de Anchieta)

Os achados contém 62 depoimentos, 11 deles de indígenas, que foram colhidos 20 anos após a revolta. Os relatos fortalecem o impacto do acontecimento que, logo depois, deu origem a uma comunidade independente no Vale do Orobó, em Piúma.

Historiadores, ao analisarem a revolta, afirmam que a mesma representa um marco importante na história indígena capixaba. Alguns comparam o fato à Insurreição do Queimado, revolta contra o poder colonial realizada em 1849 por negros escravizados na Serra.

A revolta

O segundo maior aldeamento da então Capitania do Espírito Santo se localizava na região de Reritiba, atual município de Anchieta, e abrigava cerca de 5 mil indígenas. No dia 29 de setembro de 1742, após um desentendimento provocado por ciúmes, um seminarista agrediu um nativo. Diante disso, os indígenas se revoltaram e expulsaram os padres responsáveis pela aldeia, que foram substituídos.

O afastamento dos jesuítas, porém, não foi suficiente. Os novos padres foram recebidos de maneira hostil e somente após algumas negociações realizadas entre os responsáveis da Igreja Católica e os indígenas, os padres expulsos voltaram. No acordo, o povo originário impôs diversas condições, tais como escolher os administradores da aldeia, mudar as condições de trabalho e anistia aos rebeldes.

Quadro de Ronaldo Moreira mostra cenas de revoltas indígenas (Foto: Reprodução/Casa da Cultura de Anchieta)

No entanto, os desentendimentos entre os grupos continuaram. Alguns indígenas não concordavam com a vida regrada dentro das missões católicas, que também envolvia trabalho compulsório e pouca liberdade. Já os colonos, se mostravam totalmente a favor da saída dos nativos do local.

Após um novo conflito sangrento entre religiosos e indígenas, os nativos ficaram divididos entre os que permaneciam ao lado dos colonizadores e aqueles que preferiam abandonar a aldeia. Foi então que um grupo com cerca de 3 mil aldeados fugiram de Reritiba e fundaram a comunidade independente de Orobó, atualmente município de Piúma. Contudo, devido a escassez de informações, não se sabe exatamente até quando Orobó sustentou-se.

Edição: Karol Costa

Imagem Destaque: Bruna Firmes/Núcleo de Publicidade do Lacos