‘NOVEMBRO AZUL’ – A campanha de prevenção ao câncer de próstata e seus tabus
Victor Sartório
Mulheres vivem cerca de 5 anos a mais que os homens. Foi o que atestaram as pesquisas realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016. No Brasil a situação não se altera, assim como em qualquer outra região do globo terrestre. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em suas “Tábuas Completas de Mortalidade”, divulgadas em 2019, o homem brasileiro possui a expectativa de vida de 73,1 anos, enquanto que as mulheres, de 80,1 anos.
Inúmeros são os fatores que contribuem para essa discrepância, sendo eles genéticos, hormonais ou culturais. Considerando que os padrões orgânicos genéticos e hormonais das pessoas não se alteram, são contra aqueles fatores culturais que a campanha “Novembro Azul” concentra esforços para dar visibilidade aos homens à busca por maior qualidade e expectativa de vida. Foi no ano de 2011 que o “Instituto Lado a Lado Pela Vida”, no Brasil, criou a campanha, em inspiração ao movimento que surgiu na Austrália, ainda em 2003, chamado “Movember”. O nome alude à palavra “Mustache” (“bigode”, em inglês, o que virou símbolo da iniciativa) e “November” (“novembro”, em relação ao “Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata”, celebrado no dia 17 de novembro).
Apesar da detecção precoce dar ao paciente cerca de 90% de chance de cura, o câncer na próstata é, ainda, a segunda maior causa de morte dos homens brasileiros que desenvolvem neoplasias malignas, sendo, também, o principal tipo de câncer desenvolvido (29,2% dos casos em 2020). Em 2019, mais de 43 homens morreram por dia devido à doença – dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
O auditor fiscal aposentado Paulo José da Silva recebeu o diagnostico de câncer de próstata aos 60 anos de idade. Paulo atesta que, desde os 40 anos de idade realizava anualmente os exames de PSA e de toque, o que lhe salvou a vida, pois lhe permitiu descobrir a doença logo em seu estágio inicial. “Com o diagnóstico, o médico recomendou a prostatectomia radical, a qual, após com uma segunda opinião médica, fui submetido, com a retirada total da próstata e das vesículas seminais”, conta.
A descoberta do câncer no início de seu desenvolvimento também auxiliou com que não houvesse nenhuma sequela ou intercorrência com o procedimento ou com a remoção da glândula. “Hoje, 4 anos após a cirurgia, levo uma vida normal”, relata Paulo.
O aposentado, motivado pela sua própria experiência pessoal, comenta da importância da campanha “Novembro Azul” para a conscientização dos homens quanto à prevenção dessa mortal e silenciosa doença. “Se atingir ao menos 1% do público alvo, já serão bastante vidas que poderão ser salvas”, afirma com categoria, considerando ser o segundo tipo de câncer que mais mata homens no país.
Não é desconhecida a existência de tabus e preconceitos na resistência dos homens, sejam de novas ou antigas gerações, quanto ao exame de toque. O próprio Paulo é testemunha de pessoas próximas que, mesmo diante de toda a visibilidade e conhecimento da medicina sobre a questão, se negam a se proteger: “conheço muitos, inclusive um colega de trabalho, que, por machismo, diz que faz exame de PSA, mas de toque não faz de maneira nenhuma”.
Importante ressaltar que o exame de PSA por si só não é suficiente para o diagnóstico do câncer, pois não é um exame específico para essa doença. O PSA pode se alterar por outras razões, como inflamações na próstata e outras condições, às vezes, nem patológicas. Somente com o exame de toque o médico conseguirá ter certeza da existência do nódulo.
Informações adicionais (fonte: Cartilha do INCA):
A Próstata: a próstata é uma glândula masculina que se encontra na frente do reto, abaixo da bexiga e que envolve a uretra. Tem o tamanho de uma ameixa – variando com a idade – e a função de liberar um líquido que compõe o sêmen, auxiliando na proteção do espermatozoide.
Fatores de risco: idade avançada, histórico familiar e sobrepeso.
Prevenção: manutenção do peso corporal adequado, alimentação saudável, prática de atividades físicas, não fumar e evitar consumo de bebidas alcoólicas.
Sintomas: os sinais são, geralmente, averiguados por irregularidades na urinação, o que também pode ser indicativo de outras doenças. O homem deve ficar atento ao aparecimento de sangue na urina, à demora para começar ou terminar de urinar, à diminuição do volume urinário ou à necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou a noite.
Exames necessários para a investigação: exame de toque retal, no qual o médico avalia o tamanho, a forma e a textura da próstata pelo tato. E o exame de PSA, que consiste numa coleta de sangue para análise da quantidade da proteína produzida pela próstata. O diagnóstico, se necessário, deverá vir por biópsia da próstata, na qual um fragmento da glândula é retirada para análise patológica.
Edição: Victor Sartório.
Imagem em destaque: Fernanda Renon/Núcleo de Publicidade do Lacos