OPINIÃO – Jornalismo Cívico como Alternativa e Prática Social para as Comunidades (parte 1)
Bruno Laurindo
As práticas sociais referem-se aos hábitos e maneiras de criar e fazer coisas estabelecidas dentro de uma sociedade por todos os habitantes. No Brasil, no atual momento, é possível afirmar que essas práticas são manifestações enraizadas às características culturais. Para a provável implantação da cidadania nas práticas sociais é preciso dar oportunidades a toda sociedade de forma igualitária. Tal ato motiva e gera oportunidades para as pessoas exercerem os deveres aplicando, assim, a cidadania na teoria e na prática.
Baseado nesse cenário, o direito à comunicação é fundamental em uma provável diminuição da desigualdade social no Brasil. A comunicação como direito no mesmo nível dos demais contribui nos processos de conhecimento, organização e ação. No Brasil a comunicação é importante dentro das inúmeras categorias de movimentos sociais. As categorias de base popular, por exemplo, se organizam na própria dinâmica de ação e são direcionadas a resolver problemas, decorrentes das desigualdades como saúde, moradia, educação e terra, que afetam grandes grupos populacionais.
Assim, o sociólogo Manuel Castells entende que há uma aproximação de identidades necessárias na articulação desses movimentos. Para o autor, a capacidade de organização surge de acordo com os recursos disponíveis em cada época. Antigamente, para reivindicarem os direitos, os movimentos sociais utilizavam os meios artesanais e de baixo alcance de comunicação como panfletos e megafones. Hoje, utilizam canais de comunicação modernos e eficazes como blogs, redes sociais, chats, entre outros. No entanto, para utilização desses canais, é preciso ter seriedade, uma alfabetização para a linguagem audiovisual, domínio das técnicas de diagramação, domínio no manuseio de computador, entre outros critérios.
Ao falarmos, então, em Jornalismo Cívico, entende-se que esse tipo de Jornalismo é feito para o cidadão. No entanto, quando se aborda o Jornalismo Cívico no Brasil, lembramos que o público nem sempre tem a devida atenção dentro da chamada “grande mídia”. No País é possível considerar a “mídia alternativa” como uma espécie de Jornalismo Cívico, pois ela foca na capacidade de conceder autonomia ao cidadão.
A mídia de caráter alternativo tem o desafio de transformar consumidores de mídia em participantes no processo de produção da mídia. Tais características podem ser comparadas aos valores defendidos pelo Jornalismo Cívico. Esses valores priorizam a divulgação de assuntos ignorados pela imprensa tradicional. Para os professores Chris Atton e James Hamilton, a mídia alternativa possibilita às pessoas comuns a terem suas histórias contadas ou que elas mesmas as contém sem ajuda especializada de jornalistas.
Já a professora Cicília Peruzzo enxerga as mídias alternativas, populares e comunitárias como processos de comunicação baseados em princípios públicos. Ou seja, não ter fins lucrativos; propiciar a participação ativa da população; ter propriedade coletiva; e difundir conteúdos com a finalidade de educação, cultura e ampliação da cidadania.
No Jornalismo Cívico, o cidadão e suas necessidades precisam ocupar um papel importante na definição das pautas e na construção da notícia. O público deve ser reconhecido como fonte em potencial para enriquecer o diálogo entre os diferentes atores sociais e, assim, construir uma sociedade mais inclusiva.
No Brasil são poucos veículos, da chamada “grande mídia”, que adotam o Jornalismo Cívico. O professor Márcio Fernandes cita o jornal O Povo, de Fortaleza, como o jornal que estabeleceu um projeto editorial diferenciado para tratar o tema “infância”. Já o Jornal da Manhã, da localidade de Ponta Grossa, Paraná, em suas versões impressa e eletrônica, destacou-se por seu papel de motivador da participação do público.
Já o professor Luiz Martins da Silva (2006) ressalta, como exemplo, a TV Futura que, mesmo sendo um consórcio de empresas, desempenha um papel na atuação do Jornalismo no viés educativo. Segundo o autor, o canal acredita que comunicação e a inovação são aliadas na promoção de uma educação integrada e de qualidade.
O Futura é uma experiência pioneira de comunicação para transformação social que, desde 1997, opera a partir de um modelo de produção audiovisual educativa, participativa e inclusiva. Ela conta com a realização da Fundação Roberto Marinho e tem como resultado a parceria estratégica entre organizações da iniciativa privada. Sendo assim, tal realidade mostra que a prestação de um serviço público não necessita ser disponibilizada apenas por um órgão estatal ou governamental.
Em um formato indispensável de interlocução entre Estado e a Sociedade Civil, a organização dos sujeitos em torno dos temas de interesse público é a forma de ampliação da sua potência cívica, colocando-se como legítimos interlocutores e, até mesmo, ganhando simpatia para a causa.
Para melhor, então, o entendimento sobre o que é o Jornalismo Cívico, o programa “Caminhos da Reportagem”, exibido na emissora pública TV Brasil, fez uma matéria sobre a “Terra do Meio”. Essa localidade remota no interior da Amazônia tem as vias de acesso limitadas, mas se conecta ao mundo por meio do rádio, do telefone, da TV parabólica e até mesmo da Internet. O programa traz o tema “Na Amazônia pelas ondas do rádio”. A matéria aborda o rádio de ondas curtas como um dos meios mais eficientes para levar informação aos lugares mais distantes e de difícil acesso no meio da floresta Amazônica.
A produção conta sobre um pedaço da localidade Terra do Meio, território entre Xingu e Iriri, no Estado do Pará. A matéria aborda a vida dos beiradeiros, população que vive às margens dos rios e tira todo o sustento da natureza. Assim, esses tipos de localidades são vistas como lugares de pertencimento, da segurança e do aconchego. As pessoas estão próximas umas das outras e possuem um laço de identidade.
Edição: Daiane Obolari
Imagem de destaque: Bruno Laurindo