Mulheres enfrentam a crise dos 30 anos
Gabriela Grillo
Uma insatisfação inexplicável, vontade de jogar tudo para o alto, de fazer diferente e o medo do futuro: essas são algumas das sensações vivenciadas pelas mulheres que enfrentam a crise dos 30 anos. Em geral, elas percebem que tornaram-se adultas e que, apesar de ainda serem jovens, não são mais tão novas para fazer tudo de novo caso sintam vontade. A ideia de que toda escolha é muito importante e para sempre, faz com que as mulheres, especialmente a partir dos 30 anos, deem um peso muito grande para suas decisões, como carreira, casamento e filhos. E a frustração da crise dos 30 acontece justamente caso ela ainda não tenha alcançado um ou mais desses pilares.
O estigma dos 30 anos foi eternizado no século XIX pelo escritor francês Honoré de Balzac no livro “A mulher de 30 anos”, que abordou pela primeira vez na literatura a maturidade feminina. Segundo a psicóloga Gabriela Faria, a crise dos 30 anos é, mais do que qualquer coisa, um produto da forma como a nossa sociedade pensa sobre as mulheres.
Para a profissional, as pressões às quais as mulheres são submetidas, como manterem-se jovens e lindas, bem-sucedidas profissionalmente e com relacionamentos amorosos dignos de filmes românticos, torna o processo de envelhecimento, para algumas delas, ameaçador e fonte de sofrimento.
Quando criança ou adolescente, é comum se imaginar estável financeiramente e morando sozinha ou casada aos 30 anos. Crescer e perceber que essa imagem criada do futuro não corresponde com a realidade é um dos principais fatores que desperta a crise dos 30 nas mulheres. E isso acontece até mesmo antes de chegarem a essa idade.
Para a publicitária Tatiana Pavesi, 28 anos, a crise dos 30 já está batendo na porta, principalmente com as inúmeras dúvidas que surgem. “Tenho 28 anos e ainda moro com minha mãe. Será que até os 30 conquistarei minha independência? Será que vou alcançar tudo o que desejo? O que eu fiz até hoje? Vou casar um dia? Essas são algumas das indagações que mais me preocupam”, desabafa.
Já a assessora administrativa Cinthia Caetano, 38, se casou e conquistou a estabilidade profissional e financeira antes dos 30, mas pouco tempo depois percebeu que o que construiu era apenas um castelo prestes a desabar.
Aos 33 anos, olhei para a minha vida e vi que nada daquilo fazia mais sentido
Cinthia Caetano
Depois de decidir se separar e investir em cursos profissionalizantes, Cinthia passou a procurar também a felicidade em outras áreas. “Sempre me interessei pelo mundo da arte. Ter entrado para a dança e investido no canto foi fundamental para superar a crise dos 30, além, é claro, da ajuda psicológica”, finaliza.
Apesar da crise dos 30 anos ser vista como uma experiência natural ou instintiva da mulher, a psicologia associa esse fenômeno às consequências da forma como a mulher é tratada na sociedade. Naturalizados e enraizados no corpo social, o machismo e o patriarcado estabelecem a maternidade e o matrimônio como essenciais para vida da mulher. “Precisamos problematizar esse padrão imposto socialmente e que afunilam as subjetividades das mulheres e tentam transformá-las em um produto palatável para libertá-las”, destaca a psicóloga.
Edição: Gabriela Jucá
Imagem de destaque: Pexels