A importância de Glória Maria para o jornalismo Brasileiro
Lúcio Aragon e Bruna Moraes
Quem nunca sonhou em viajar o mundo, conhecer novas culturas e lugares incríveis, provar culinárias exóticas, viver experiências inusitadas e, de quebra, ainda ser pago para documentar tudo isso? Pois é… Assim é a vida da jornalista e repórter da TV Globo, Glória Maria. Ela, que trabalha na Globo desde 1971, já conheceu 163 países e diz possuir mais de 15 passaportes preenchidos. Um sonho, não é mesmo? Vamos explorar um pouco mais da vida de Glória e tentar entender como ela se tornou tão influente para o telejornalismo brasileiro e sua importância como mulher negra em um meio que costumava ser “dominado” por homens brancos.
Carreira e Ascensão
Glória Maria formou-se em jornalismo pela PUC-RJ e começou na Televisão como repórter entrevistadora. Não demorou muito para tornar-se âncora da emissora, apresentando vários programas jornalísticos como RJTV, Jornal Hoje e Fantástico, que apresentou de 1998 a 2007. Ela já entrevistou grandes nomes internacionais como Mick Jagger, Freddie Mercury, Michael Jackson, Leonardo DiCaprio, Elton John e Madonna.
Mas foi no mundo das viagens que se encontrou como repórter. O primeiro lugar foi os Estados Unidos. Ela foi cobrir, em 1977, a posse do presidente democrata Jimmy Carter. Daí pra frente, foram inúmeras jornadas: Ela já viu a Aurora Boreal na Noruega, já escalou a base do monte Everest no Nepal e trabalhou como voluntária em um pequeno vilarejo na Índia. Viveu várias aventuras como saltar do maior bungee jump do mundo em Macau, na China. São 233 metros de altura, que equivale a um prédio de 78 andares. Até então, tinha sido a primeira e única jornalista brasileira a sair da órbita e vivenciar a gravidade zero pela NASA.
Preconceito e Representatividade
Parece a vida dos sonhos, mas nem tudo foram flores na jornada de Glória Maria até chegar ao sucesso, pois vir de origens afrodescendentes no Brasil é conviver com o preconceito. Filha de um alfaiate e de uma dona de casa, Glória nunca desfrutou de muitos luxos durante a infância e adolescência e nada do que conquistou veio fácil.
Em entrevistas ao jornalista Pedro Bial, no programa Conversa com Bial, Glória Maria diz ter sofrido ataques racistas durante anos. Ela revelou, também, que, quando os repórteres começaram a aparecer na televisão e não apenas a mão deles, ela foi uma das últimas devido as constantes discriminações. Para superar o medo de aparecer na televisão, Glória diz que foi necessário o acompanhamento de profissionais com terapia.
Recebia os comentários por cartas e, depois, por e-mails. Não era uma declaração pública e vinha diretamente a mim, atingia a minha alma e meu coração
Glória Maria
Muitas vezes, Glória teve a carreira desacreditada por muitos que diziam que ela era contratada por “pena” ou por apenas para servir como “propaganda do movimento negro”. “As pessoas acham que hoje o racismo é pior. Não, não, não. Quem não gosta de preto, não gosta. Quem é racista é racista. Não adianta a Glória Maria apresentar o Jornal Nacional, o Globo Repórter, o Fantástico. Ela é negra? Então, tem que ser discriminada ou diminuída”, desabafou Glória na entrevista com Pedro Bial.
Além disso, o fato de ser mulher e negra ainda agravaram os ataques sofridos durante a carreira profissional. Glória afirmou que sofreu ataques do ex-presidente João Figueiredo quando fazia coberturas jornalísticas. João Figueiredo foi presidente durante o período do Regime Militar no Brasil.
Tira aquela ‘neguinha’ da Globo daqui. E eu passei todo o governo Figueiredo ouvindo isso
Glória Maria
O psicólogo e sociólogo Serge Moscovici, que foi um dos ilustres na psicologia, história e ciências sociais, apresenta nos estudos que a representação social é uma produção coletiva que tem como uma de suas dimensões a atitude ou orientação geral de grupos em relação ao objeto da representação.
Em 1961, Moscovici publicou a obra ‘La Psychanalyse, son image et son public’, a partir de então desenvolveu uma psicossociologia do conhecimento. Tal conhecimento, era obtido por meio da compreensão de indivíduos ou grupos que compartilhavam pensamentos, gestos, crenças entre outros, que formava a comunicação e o comportamento entre eles. A teoria das representações sociais tem como objetivo entender as lutas e o que produzem, como a de Glória Maria por seu espaço no jornalismo.
Segundo os estudos de Moscovici, representar um objeto tem o sentido de tornar conhecido, dar um significado, tornar em algo familiar. O que simboliza diversas culturas e entidades. E isso pode-se evidenciar no caso da Glória Maria numa época que os afrodescendentes e mulheres não tinham tantas vozes. Ela veio para dar início a uma jornada que busca a igualdade entre as pessoas.
Para compreender melhor a questão do preconceito, utilizamos a frase do historiador inglês Eric Hobsbawm para contextualizar o texto. “O racismo, além de conveniente enquanto legitimação da dominação do branco sobre indivíduos de cor e de ricos sobre pobres, é um mecanismo por meio do qual uma sociedade fundamentalmente desigual, mas baseada numa ideologia fundamentalmente igualitária, racionaliza as suas desigualdades. Para isso, a ciência, o trunfo do liberalismo, veio para provar que os homens não são iguais”.
Consagração, memes e… GLÓRIA!
Mesmo após todos esses episódios, Glória diz que tudo serviu como crescimento pessoal. Ela se consagrou como uma das jornalistas negras mais influentes da história do jornalismo brasileiro, abrindo portas inclusive para uma nova geração de jovens jornalistas negros que, até então, não tinha uma perspectiva real de um dia chegar em grande Emissoras brasileiras de televisão como a Globo, o SBT e a Record.
“A Glória é desbravadora!” – Maju Coutinho, âncora do Jornal Hoje
Glória também se tornou influência na internet. Diversos vídeos e memes de suas aventuras pelo mundo viralizaram nas redes sociais e ela se tornou muito popular entre os jovens.
No Programa “Globo Repórter”, especial sobre a Jamaica, Glória usou trajes típicos da cultura rastafári e fumou maconha com os locais. A história aconteceu em 2016 e rendeu memes hilários que circulam pela internet até hoje!
“Eu fumei aquele negócio na mais radical e pura comunidade rastafári da Jamaica. Nós negociamos durante três meses. Assinamos um papel dizendo que a gente respeitaria todos os regulamentos, inclusive rezar na entrada e fumar na saída. Depois que a gente saiu de lá, ficamos na recepção do hotel por umas cinco, seis horas sem conseguir voltar para o quarto. Ninguém sabia onde estava. Até hoje não sei se voltei”.
Recentemente, Glória Maria passou por uma cirurgia para retirar um tumor do cérebro, mas vem se recuperando bem e diz que não pretende parar de viajar tão cedo. E, por aqui, a gente segue torcendo para que ela continue com as viagens. Assim, podermos viajar juntos e nos divertir muito com mais reportagens, mais histórias e mais memes.
>>> Esse texto foi produzido por estudantes do 6º período de Publicidade e Propaganda da FAESA Centro Universitário. A produção teve a orientação do professor Felipe Dall’Orto dentro da disciplina “Publicidade em ambientes digitais”.
Imagem do Destaque: Jornal Vera Cruz
Edição: Isabela Wilvock