Adaptações de quadrinhos: Originalidade ou saturação

Rafhael Pardin e Pedro Pimenta Pimenta

“Vingadores: Ultimato” é um sucesso. O filme chegou à marca de maior bilheteria mundial com cerca de 2,8 bilhões de dólares. Ninguém pode, então, dizer que adaptações de quadrinhos para outras mídias não compensam. Das 10 maiores bilheterias do cinema, cinco são de filmes baseados em HQs, e esse amor por longas adaptados da 9ª arte não é de hoje. Desde os anos 30, as histórias cruzavam mídias e chegavam a públicos cada vez maiores. Dito isso, o que faz uma boa adaptação de quadrinhos?

As adaptações de quadrinhos para outras mídias não são uma coisa recente. O primeiro filme vindo direto das páginas foi a primeira adaptação de “Flash Gordon”, que chegou às telas em 1936. Depois disso, surgiram adaptações de heróis clássicos como Superman e Batman, que, mesmo fazendo certo sucesso, não eram filmes “arrasa-quarteirões” que podiam ser. Mas, em 2000, tudo mudou. Com a estreia do primeiro X-men, o público e os executivos passaram a olhar esse “gênero” com outros olhos. A obra não foi nenhum estouro nas bilheterias, porém conquistou o público e os críticos.

As mudanças continuaram em 2002 com a estreia do primeiro filme do “Homem-Aranha”. Com recordes de bilheteria quebrados, o longa foi um investimento com um retorno certeiro, garantindo mais duas continuações. Em 2008, com a estreia o primeiro “Homem de Ferro”, foi iniciado o Universo Cinematográfico da Marvel. A partir desse momento, todos conhecem a história: cenas pós-créditos promovendo a interligação dos filmes até culminar num evento que unisse todos os heróis apresentados.

Assim se chegou a esse sucesso que é visto hoje, a essa explosão nas bilheterias e à dominação da cultura pop pelo cinema de quadrinhos. O ilustrador e indicado ao Eisner (“Oscar dos Quadrinhos”) pela obra “A Terrível Elizabeth Dumn contra os Diabos de Terno”, Arabson Assis, comentou que existe muita criatividade no universo das HQs e, hoje, finalmente, essas mídias estão sendo valorizadas.

É legal que os filmes da Marvel e as adaptações de HQs tenham alcançado esses números impressionantes. Outras produções já vieram e virão a reboque

Arabson Assis, ilustrador

Mesmo com o sucesso das obras cinematográficas e “dominação do mercado”, alguns enxergam esse gênero com certa cautela. O jornalista e crítico de cinema Gustavo Cheluje pensa que o ramo é uma tendência, é um filão muito lucrativo para os estúdios e acaba por render muitas sequências. Contudo, vê perigo na situação. Mesmo não sendo contra, acredita que isso causa letargia para a indústria, lugar onde boas ideias acabam não sendo criadas.

Eu tenho mais interesse em adaptações de quadrinhos mais independentes como o ‘Azul é Cor Mais Quente’. Já em adaptações de HQs de heróis, eu acredito que está havendo uma saturação do mercado

Gustavo Cheluje, crítico de cinema

Cinema no Brasil

Um ponto que reforça a fala do crítico é a “cota de tela”, que veio com a retirada dos longas como “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral” e “De Pernas para o Ar 3” de circuito, mesmo com boa presença de público. A versão mais atual dessa cota veio em 2007. Apesar de, agora, não ser novidade, ela vai ajudar aos filmes menores a se manterem em cartaz por mais tempo. Apesar de ser contra a reserva de mercado, Cheluje acrescenta que essa massificação é nociva para o espectador, pois atrapalha o cinema, já que dá apenas uma visão de arte. Para ele, é perigoso ter apenas um padrão a ser visto, que é a hegemonia dos super-heróis no mercado.

Arabson Assis afirma que há, cada vez mais, projetos de quadrinhos feitos para se tornarem filmes. Para ele, tratá-los unicamente como storyboard em larga escala é ruim, pois não explora as potencialidades únicas que a mídia tem. “Se obras independentes são adaptadas, permite que os autores produzam mais quadrinhos. O que acredito ser o verdadeiro interesse de quem faz hoje: continuar produzindo”, declara. Esperançoso, Arabson valoriza a importância real de boas histórias, de bons personagens e do cuidado com a linguagem aplicada à mídia a qual está sendo adaptada.

Imagens da galeria: Rafhael Pardin e Pedro Pimenta

Imagem de capa: Pedro Pimenta

Edição: Diogo Cavalcanti