Conheça as glórias e dificuldades do incrível mundo dos mangás
Rafhael Pardin e Pedro Pimenta Pimenta
O conteúdo produzido faz parte de uma reportagem sobre o tema Quadrinhos. A primeira matéria jornalística publicada da série foi: “Quadrinhos: história, trabalho e preconceito”
Os animes foram uma febre em território brasileiro e muito dessa cultura veio da extinta emissora de televisão Manchete. O canal foi responsável por popularizar, no Brasil, grandes sucessos como “Os Cavaleiros do Zodíaco” e “SuperCampeões”. O que nem todo mundo sabe é que antes de virarem animações, os personagens vieram de revistas, mais especificamente dos mangás.
Atualmente, os mangás, um dos maiores produtos de importação cultural do Japão, se popularizaram pelo globo com histórias que fugiam da conotação já tão comum: heróis mais poderosos da terra. As histórias vão desde contos de terror inspirados no folclore japonês a comédias românticas, distopias e até mesmo o ser humano e a sociedade nas mais diversas interpretações, lendo-se, sempre, da direita para esquerda.
O estudante de Jornalismo Matheus Rangel conta, com um sorriso no rosto, que uma das principais razões que o faz adorar os mangás está nas histórias, sempre muito voltadas para a cultura nacional e internacional. A possibilidade de diversos cenários aprofunda a abordagem e o desenvolvimento delas, dando um ar único ao conteúdo.
Temos ilustrações que chamam bastante a atenção se comparadas às HQs e outros produtos do ocidente
Matheus Rangel, Estudante de Jornalismo
O que mais têm destaque nos mangás são os desenhos. Produções como “One-Punch Man” e “Tate no Yuusha” contêm artes tão inspiradoras que motivam as pessoas a abordarem temas orientais nas produções do cotidiano. “Os mangás são uma ótima fonte de informação e estudo para que eu desenvolva mais os meus desenhos. E, claro, aumenta o repertório de ideias”, relata o publicitário Vinícius Campana.
Já o estudante de Jornalismo Leonídio Ricardo destaca outros pontos como a quebra de padrões “estabelecida” pelos mangás. Diversos estereótipos e preconceitos são quebrados ao longo da leitura. Os mangás, por trazerem fenótipos compatíveis com o padrão oriental e por tratarem, inclusive, de temas como a orientação sexual, ajudaram o estudante na aceitação do próprio corpo.
Crise editorial
Além da crise criativa e da dificuldade dos criadores em publicarem as obras, o Brasil sofre uma crise editorial em diversos frontes. As livrarias, que sempre fizeram jus a maior parte dos lucros de um produto, estão sofrendo com o atual mercado e algumas fecham as portas em virtude do rendimento abaixo da média.
Outro fronte que afeta, em grande parte, o consumo de quadrinhos, é o que envolve a Panini, uma das maiores editoras do Brasil. O problema principal é o descuido com os materiais na parte editorial. Diversos quadrinhos são distribuídos com erros de ortografia e de edição de páginas.
E quem mais sofre com isso são os fãs, os consumidores, que investem dinheiro em um produto que chega recheado de erros. O professor universitário e publicitário Felipe Tessarolo vê essa crise como sinal de mudanças e de migração de formatos. De acordo com o profissional, a transição de formato físico para o digital pode ser a chave para a continuidade.
Às vezes, lançar uma HQ para o próprio Kindle é uma opção. Mesmo eu sendo das antigas, eu acredito que esse modelo físico não vai se sustentar por muito tempo
Felipe Tessarolo, Professor e Publicitário
Outro problema observado, ultimamente, por diversos fãs é a nova linha editorial, como o cinema e outras mídias que bebem da fonte das HQs. O fato tem afetado a produção e o âmbito criativo da nona arte. Colecionadores, como o professor universitário Felipe Dall’Orto, também enxergam a migração de formatos com essa nova linha narrativa. A leitura em geral tem diminuído. A aceitação do público geral das mídias digitais desaceleram o consumo dos quadrinhos.
O que percebo é uma mudança das empresas de ‘levar’ para os quadrinhos o que funciona no cinema. Assim, alguns personagens e histórias sofrem alterações nas HQs para acompanhar a narrativa criada no cinema
Felipe Dall’Orto, Professor universitário e colecionador de HQs
Contudo, em meio ao pessimismo da crise, algumas pessoas ainda olham o mercado com esperança e um certo otimismo. O professor universitário e jornalista Paulo Soldatelli afirma que apesar dos problemas, as editoras conseguiram aproximar mais pessoas da mídia. Os filmes podem ajudar o fomento ao consumo dos quadrinhos, pois, segundo ele, uma mídia ajuda a outra.
Galeria de Fotos: Rafhael Pardin
Foto de capa: Rafhael Pardin
Edição: Diogo Cavalcanti