Leitura na era da informação
Nina Wyatt
Seja por hobby, para informação ou estudo, a prática da leitura aprimora o vocabulário, dinamiza o raciocínio e a interpretação, ajuda na memorização e, ainda, contribui para desenvolver o senso crítico do leitor. Contudo, com a ascensão das redes sociais e o avanço de tecnologias de comunicação, cada vez mais é comum encontrar jovens que não tenham interesse pela leitura, principalmente por livros e textos mais longos. Como consequência, esses jovens apresentam mais dificuldades em lidar com questões simples, em ter uma opinião e até mesmo de se comunicarem.
Uma pesquisa realizada, em 2015, pelo Instituto Pró Livro apontou um baixo índice de leitura em todas faixas etárias de crianças e adolescentes. O levantamento indicou também que o brasileiro lê, em média, menos de três livros por ano, um número muito baixo quando comparado a países desenvolvidos ou até mesmo a países vizinhos semelhantes ao Brasil, como a Argentina e o Chile. Segundo a pesquisa, a maioria dos brasileiros prefere usar o tempo livre para navegar nas redes sociais com um smartphone do que para ler algum livro.
No Brasil há uma questão histórica e social que deixa a população ainda mais desinteressada e com dificuldade de compreensão e interpretação de texto. De acordo com uma pesquisa feita pela Fundação AbrinqM, em 2016, a pouca leitura dos brasileiros está atrelada, entre outras razões, à alfabetização tardia, à educação básica e ao analfabetismo funcional. Além disso, existe pouco incentivo à leitura, tanto dentro de casa, quanto na escola.
Para a bibliotecária Alessandra Pattuzzo, 39 anos, a leitura é fundamental na formação de um indivíduo e, quando estimulada desde cedo, contribui para que o hábito de ler seja criado. Ela ainda afirma que a leitura é uma poderosa ferramenta de aprendizado, importante no auxílio do processo educacional e viabilização da busca de mais conhecimento pelas crianças. “Em jovens, fica explícito nos que leem: um vocabulário mais amplo, frases mais complexas e elaboradas, expressão, ideias e valores mais perspicazes, pensamentos mais diversificados e um senso crítico mais apurado”, conta a bibliotecária.
A falta de incentivo à leitura durante a infância influencia no baixo interesse pela prática já na idade adulta. O excesso de informações rápidas, disponíveis nas redes sociais e o estigma de que livros são chatos, complexos e que devem ser lidos por obrigação contribui ainda mais para que jovens leiam pouco e não tenham interesse ou paciência para os diversos tipos de leitura. Diante dessa situação, é cada vez mais comum encontrar jovens que não gostam de ler ou que, mesmo gostando, têm preferido as redes sociais e as notícias rápidas da internet.
Este é o caso da estudante de jornalismo Maria Eduarda Berssot, 20 anos, que, apesar de gostar muito de ler, perdeu o hábito. Entre as razões, ela destaca a rotina corrida de estudo e as redes sociais. A faculdade fez com que a universitária trocasse os livros por artigos acadêmicos, que muitas vezes precisam ser lidos por obrigação, não por escolha, como no caso dos romances criminais de Agatha Christie, uma de suas preferências literárias. “A internet oferece vídeos, imagens e informações rápidas e mastigadas, o que é muito mais prático e rápido que um texto grande, cujo conteúdo não tenho tempo de ler”, relata Maria.
A também estudante de jornalismo Daniele Esperandio, 19 anos, é outra jovem apaixonada por livros. Incentivada desde cedo a ler, ela nunca perdeu o hábito e diz que sempre busca novidades. Os livros são, para ela, uma forma de diversão e de entretenimento e, por essa razão, prefere passar o tempo lendo do que navegando em redes sociais. Para a estudante, o gosto pela leitura permite enxergar o mundo de forma diferente, ter novas ideias, desenvolver o senso crítico e, principalmente, melhorar o vocabulário, a gramática e escrever melhor.
De acordo com Daniele, a pessoa que não tem o costume de ler, acaba não tendo muita paciência para ler conteúdos como reportagens, matérias jornalísticas e textos acadêmicos que exigem um pouco mais de esforço e atenção. Com isso, muitas pessoas acabam não se informado, já que não conseguem ler textos longos e complexos, preferindo, assim, notas rápidas na internet, onde a informação é mais superficial e compactada. “Quando lemos o que gostamos, desenvolvemos habilidade e paciência para ler qualquer tipo de coisa”, explica a jovem leitora.
Edição: Diogo Cavalcanti