Paixão pelo Flamengo é emoção intensa
Tony Silvaneto
“O Futebol é uma paixão nacional”. Tal jargão é repetido há muito tempo. Mas o fato é que o torcedor movimenta uma energia de emoção intensa, reforçada pela expectativa e pelo desejo.
O coração dispara, as mãos suam. Há pessoas que não resistem a pressão psicológica, então gritam, pulam, xingam, dão gargalhadas ou choram. Contudo são fiéis aos sentimentos pelos times que torcem.
O Faesa Digital foi ver de perto, no último sábado, 23, a reação dos torcedores do Flamengo no Triângulo das Bermudas, Praia do Canto, em Vitória (ES). O objetivo foi observar o significado do time carioca para eles.
Os flamenguistas se reuniram em grupo. Colaboraram entre si, partilhando espaços, bebidas, bandeiras e outros objetos. Abraçaram-se, frequentemente, e se permitiram conversar com desconhecidos vestidos com a camisa do Flamengo, por simples identificação. Parecia uma irmandade.
Eles assistiram, em telões, à final da Taça Libertadores da América. A maioria estava acompanhada de amigos ou familiares. Os bares ficaram lotados. Funcionaram por reserva de mesa, cuja consumação mínima chegou a R$ 50,00. Assistiram ao jogo em pé, colados às grades de proteção. Em suas faces, o semblante de expectativa e de esperança.
O administrador de Empresas Anderson Santos, 25 anos, disse que o Flamengo é como uma religião. É praticamente uma segunda família. Ele revelou que a vitória do time é tão emocionante, que se assemelha ao nascimento de um filho. “Mesmo se houver derrota, festejarei da mesma forma, já que o time jogou muito em todo o campeonato”, garante Santos.
O Gerente Comercial Leonardo De Luca, 35 anos, relatou que estava ansioso com o jogo e que o coração estava batendo forte com a expectativa de ser campeão. De Luca contou as loucuras que fez pelo time. “Saí de Cachoeiro ‘bate-e-volta’, ou seja, no mesmo dia, para ver o Flamengo jogar. Fiquei sem dormir. O pior é que o Flamengo perdeu nesse dia, mas, mesmo assim, valeu a pena” contou o gerente.
A comerciante Marleide Pedro, 49 anos, afirmou que fica agitada antes, durante e depois que o Flamengo joga. “A gente fica muito feliz, muito eufórica, pois o Flamengo é o Flamengo”.
Para a Marleide, o time de futebol abrange a maior parte da população do Brasil e a função social que ele cumpre é de se admirar. Ela completou que nunca fez loucuras enquanto torcedora, porém, se tivesse dinheiro, viajaria com o time para todos os lugares.
Em meio aos fogos e cantos enaltecendo a equipe, a multidão aumentava. Pessoas com camisas, de todas as cores, do clube chegavam. Vermelhas e pretas, só vermelhas ou só brancas. Até mesmo camisas cor-de-rosa apareceram. Assim, todas as pessoas deixavam a emoção transparecer .
Em determinado instante, um torcedor com a camisa do River Plate, time oponente do Flamengo, naquele dia, subiu em uma palmeira próxima. Atitude perigosa junto à multidão emocionada com o jogo, contudo parece que os torcedores do time carioca não se importaram com a provocação. São fatos inusitados e comuns entre torcidas, mas audaciosos.
A questão a ser analisada é como a emoção impulsiona os torcedores a seguirem um time de futebol. Temos, como exemplo, o Flamengo, mas outras torcidas demonstram atitudes e condutas semelhantes.
Tal comportamento foi estudado por um grupo de cientistas e os resultados publicados em um periódico do ramo, em 2017. Eles pesquisaram 27 torcedores. Apresentaram-nos vídeos, fotos, áudios do time e da torcida a que pertenciam, enquanto eram submetidos ao aparelho de Ressonância Magnética Cerebral.
Na Revista EXAME, o neurocientista brasileiro e participante do estudo, o Jorge Moll Neto, relatou que o pertencimento a grupos culturais é uma característica extremamente relevante para a sobrevivência humana, o que torna fundamental a investigação de suas bases neurais.
O Neurocientista e membro do grupo de Neurociência Cognitiva e Comportamental do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Tiago Bortolini, disse, também, que percebem-se áreas cerebrais relacionadas com o pertencimento de grupo, principalmente em relação às famílias. “Parecem ser as regiões cerebrais que também são ativadas quando a gente está, por exemplo, pensando nosso time de futebol”, conclui o pesquisador.
O prazer e a emoção de ver o time do coração jogar têm reações cerebrais semelhantes ao de “curtir” a família. Parece que a ciência encontrou um bom motivo para que os torcedores brasileiros mantenham viva a paixão pelo futebol.
Foto do destaque: Tony Silvaneto
Edição: Diogo Cavalcanti