Ex-aluno de Jornalismo da FAESA exibe documentário LGBT produzido na Alemanha
Gabriela Jucá
O ex-aluno de Jornalismo da FAESA Centro universitário Ramon Luz, 27 anos, voltou à Instituição para a exibição do documentário “Familiar face”. A obra é produzida e dirigida por Ramon e financiada pelo programa German Chancellor Fellowship, da Fundação Alexander von Humboldt, da Alemanha. Natural de Montanha, norte do Espírito Santo, Ramon foi o primeiro bolsista capixaba do programa, que promove a realização de projetos na Alemanha.
O documentário “Familiar face” foi produzido no período de quatro meses, entre junho e setembro de 2018. Com 45 minutos de duração, a obra conta com o protagonismo de dois personagens – Habibti, refugiado sírio e homossexual, e Markus, alemão e homossexual. O projeto aborda as divergências entre ser gay e nativo na Alemanha e ser gay e refugiado.
Apesar das diferenças culturais, Habibti é acolhido por Markus e ambos desenvolvem uma relação de afeto e proteção. A direção de Ramon Luz enfoca não somente o que os separa, mas o que os une e o que os fazem humanos.
Com a Síria devastada pelos conflitos, Habibti precisou fugir do país. Refugiado e homossexual, logo viu-se duplamente estigmatizado em um país e numa cultura que não te pertenciam. Tímido e sem mostrar o rosto às câmeras por razões familiares, foi acolhido, ao acaso, por Markus, homossexual e alemão. Com uma cultura mais aberta, Markus reconhece o privilégio de “poder ir para onde quiser” por conta de ser europeu e não viver em um país em guerra.
Na exibição do documentário, realizado no estúdio de Fotografia da FAESA, Ramon estava feliz com a oportunidade de voltar à antiga faculdade e apresentar o trabalho.
É gratificante. Voltar e me reencontrar com pessoas que, lá em 2017, me apoiaram e me inspiraram. Sinto que é como se eles (os professores) tivessem escrito o projeto comigo sem saber
Ramon luz
Negro e homossexual, Ramon conta que o interesse pela temática gay surgiu a partir de reflexões próprias, influenciadas pelo pensamento do antropólogo francês Marc Augé que teoriza o ‘não-lugar’. “Vai além do espaço físico. É sobre identidade, memória, cultura”, afirma Ramon.
Preocupado em trabalhar de forma justa e igualitária, Ramon se preocupa em ser um diretor humano com a equipe de trabalho e com os personagens envolvidos no projeto. Por conta disso, o diretor conta que o maior desafio foi encontrar a história em tempo hábil.
Não queria explorar nenhum sofrimento. Por isso era importante para mim criar uma relação. E não sabia se iria conseguir, pois requer tempo. Precisava ser rápido e respeitar o tempo do outro. Mas deu certo. Tenho responsabilidade com o Habibti e de protegê-lo
Ramon luz
Em um dado momento do documentário, o personagem Markus afirma: “Há muitos aspectos além da cultura. As coisas não são tão diferentes”. Para Ramon, há uma desumanização de pessoas que são consideradas diferentes. “Precisamos de mais. De humanidade, de proteção ao planeta. Nós deveríamos proteger o planeta e, por conseguinte, o outro”, afirma o capixaba.
Para o estudante de jornalismo Matheus Rangel, 20, a exibição do documentário foi uma verdadeira aula. “Me trouxe outra realidade. Me tocou bastante o fato do personagem ser árabe e gay e, apesar de todas as dificuldades culturais, só conseguia pensar na própria família. É para além da orientação sexual. É guerra, é conflito”, relata o estudante.
“Familiar face” continua em exibição no Espírito Santo. O documentário será exibido no dia 2 de dezembro no Cine Ritz Conceição, em Linhares, com horário a confirmar. O documentário também conta com projetos de exibição em festivais internacionais, como Berlim, Pittsburgh e São Paulo.
Foto do destaque: Kedma Maria/ Núcleo de Fotografia