Privacidade Hackeada: escândalo dos rastros digitais

Diogo Cavalcanti

O avanço tecnológico e a propagação pelo mundo deixam a vida de todos mais prática. Enquanto em outros tempos eram precisos dias ou até semanas para que uma carta chegasse ao seu destino, hoje são necessários alguns cliques. Os grandes desenvolvedores perceberam o mercado e criaram as redes sociais: locais nos quais todos se conectam e, em questão de segundos, diálogos são mantidos. Perfis pessoais podem ser montados, dietas divulgadas, preferências políticas debatidas, um álbum de fotos familiar criado etc Mas para onde vão tais rastros? Será que eles evaporam?

Esse é o assunto tratado pelo Documentário da Netflix “Privacidade Hackeada” do ano de 2019. Todo momento em que informações são despejadas na rede, traços são deixados. Traços esses que demonstram muito como se pensa, do que se gosta, o que se teme e como superá-lo. E se houvesse agências especializadas no monitoramento e garimpo de resquícios digitais? E se existisse quem os comprasse? E se tais pegadas modificassem o rumo de um País?

E se tais pegadas modificassem o rumo de um País? (Foto: Adrianna Calvo)

A Produção ilustra a busca do Professor David Carroll pelos seus dados. Após o escândalo de 2018 que envolveu o garimpo ilegal de database de usuários do Facebook pela Empresa Cambridge Analytica, David decidiu acionar a Justiça britânica a fim de conhecer a parcela da sua intimidade a qual a Coorporação obteve acesso.

A partir desse momento, com investigações, matérias jornalísticas e depoimentos reveladores, chega-se à conclusão de que milhões de usuários eram tratados como mercadorias ou melhor as suas informações pessoais.

A perfeição do ambiente digital vislumbra de tal forma que sequer sobra tempo para ler o contrato de adesão

Privacidade Hackeada/Netflix

Se as preferências são postadas e há quem tenha acesso a tal material. E se tal material é comercializado entre as máquinas de propaganda, logo terão acesso ao bolso emocional. E – a partir daí – a construção de uma nova sociedade. Como é lembrado em um trecho: 

Se quer mudar a base de uma sociedade, primeiro a destrua. A partir daí, poderá moldar os pedaços através da visão de uma nova

Privacidade Hackeada/Netflix
Milhões de usuários eram tratados como mercadorias (Foto: Vincent Janssen)

Um grande exemplo citado em vídeo foram as eleições americanas de 2016, nas quais o atual Presidente Donald Trump fez utilização de publicidade focalizada em grupos a cujos dados sua equipe teve acesso. Perfis e suas características eram coletados e os “persuasíveis” diagnosticados. Logo, pessoas certas em locais certos decidiriam aquele percentual diferenciador no resultado. Não deu outra: vitória.

Campanha de Trump fez utilização de publicidade focalizada (Foto: Carlos Herrero)

A personalidade controla o comportamento. O comportamento influencia a forma com que o voto se dá. As publicações dirigidas miravam uma sociedade afunilada, pontiaguda. Para isso, a estratégia “bumerangue” foi utilizada: dados enviados, análise realizada, retorno em publicidade e, por último, mudança comportamental: o eleitor vota em quem a Agência quer. Vale ressaltar que o episódio ao qual é feita referência não foi o primeiro documentado, contudo experimentos houve na América Central e Ásia para, então, acontecer o sucesso americano.

Usuários mordiam a isca e revelavam dados (Foto: Skitterphoto/Pexels)

Com base no exposto, é sabido que cabe ao utilizador do serviço perícia ao divulgar dados, uma vez que se trata um ato de grande responsabilidade. Percebe-se com o assistir da Obra que os grandes empresários das redes primam por um grande mundo conectado, porém não se sabe o que estão dispostos a fazer com os registros em face de um contexto sem legislação forte contra abusos e repleto de ofertas que movimentam uma indústria de 1 trilhão de dólares ao ano. Enquanto os direitos de dados não forem contemplados como direitos humanos, novas/velhas sociedades serão criadas e o mais prejudicado será, para variar, o povo. E você? Se preocupa com o que posta nas redes sociais?

Foto de capa: Cartaz do Documentário “Privacidade Hackeada”/ Netflix

Fotos do texto: Pexels