Natureza renasce das cinzas no Parque Estadual Paulo César Vinha
Matheus Passos
O ano é 2014. Um turbilhão de emoções está prestes a tomar conta do Brasil por causa de dois fatos que sempre “combinam” de aparecer no mesmo período. Um deles, a Copa do Mundo, que nesse ano em especial foi no Brasil, e o outro as eleições para presidente. Contudo um acontecimento em especial marcou o estado do Espírito Santo e toda uma classe de biólogos e pesquisadores ambientais.
O fato, um incêndio florestal de grandes proporções no Parque Estadual Paulo César Vinha (PEPCV), localizado na região nordeste do município de Guarapari, dentro dos limites da Área de Proteção Ambiental (APA) de Setiba. O incêndio teve início na tarde do dia 20 de março de 2014, mesmo ano em que se iniciava uma das crises hídricas mais rígidas do Brasil.
Por volta das 13h40, de acordo com o Parecer Técnico PEPCV nº 001-2014, a fumaça foi avistada por um dos funcionários do PEPCV e também gestor do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA). Ele viu indícios de fumaça na altura do pedágio e imediatamente entrou em contato com a equipe do Corpo de Bombeiros de Guarapari, funcionários do PEPCV e servidores do IEMA que trabalhavam em outras Unidades de Conservação. Todos com experiência em combate a incêndios florestais.
O atual responsável pela gestão do Parque e também agente de desenvolvimento Ambiental e Recursos Hídricos do IEMA, Flávio Guerra Barroso, conta que um dos fatores que contribuíram para a dificuldade de conter o fogo foi o vento.
O incêndio aconteceu em uma época que ventava muito. E um fator que mais contribuiu para o alastramento do fogo foi o vento nordeste, que fez com que as chamas “andassem” mais rápidas do que se podia conter
Flávio Guerra Barroso
Impactos
As chamas começaram por conta da presença da queima de lixo em terrenos baldios que foram apontados por alguns moradores como o local de início do incêndio. Ao todo foram destruídos 40% da unidade de preservação, entre elas o Brejo Herbácea, que, mesmo alagado, também foi afetado por conta da vegetação. Além disso, o fogo entrou em áreas maiores e até hoje os indícios podem ser vistos pelo público externo. A fumaça foi vista do município de Anchieta, localizado a quase 40 quilômetros da reserva.
O gestor do Parque, Flávio Guerra Barroso, ressalta que ao longo dos sete dias de incêndio foram constatados diversos impactos que afetaram diretamente a população no entorno do Parque.
Ao todo foram sete dias de incêndio, resultando no fechamento do Parque por duas semanas. Além, é claro, de impacto do primeiro dia, que foi fechamento da Rodovia do Sol por uma tarde inteira. Já ao longo dos demais dias foram constatados problemas respiratórios na população mais idosa na região
Flávio Guerra Barroso
A pesquisadora ambiental Jane Celia Ferreira de Oliveira ressalta que os impactos de cinco anos atrás na vegetação se recuperam até hoje.
Na medida em que as vegetações vão se recuperando e novos abrigos naturais são criados para esconderijo e reprodução dos indivíduos, a comunidade volta a se recompor. A natureza leva muito tempo para se recuperar
Jane Celia Ferreira de Oliveira
Diversidade na fauna e na flora
O Parque Estadual Paulo César Vinha apresenta uma riqueza na questão de fauna e flora. A reserva contém 11 dos 13 ambientes que a restinga, que é um espaço geográfico formado por depósitos arenosos paralelos à linha da costa, de forma geralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, na qual se encontram diferentes comunidades que recebem influência marinha, podendo ter uma cobertura vegetal em mosaico.
Com o incêndio, cerca de um terço de toda a reserva foi afetado nos sete dias de queimada, em 2014. De acordo com o Parecer Técnico PEPCV nº 001-2014, a área de restinga atingida pelo incêndio teve sua flora extensamente impactada, com ampla carbonização e, consequentemente, mortalidade nos estratos arbustivo e herbáceo e no estrato arbóreo em menor escala.
Entre as espécies, se encontram algumas ameaçadas de extinção, como, por exemplo, a coroa de frade, o sábia da praia e algumas bromélias. A pesquisadora ambiental Jane Celia Ferreira de Oliveira ressalta alguns fatores que provocam algumas dessas ameaças.
De forma geral, as espécies que ocorrem em ambientes de restinga já estão ameaçados de extinção local devido às constantes ameaças a esses ecossistemas, como a pressão imobiliária, por exemplo. Além dessas ameaças, muitas espécies são endêmicas desse ecossistema, ou seja, só ocorrem nos ecossistemas de restingas
Jane Celia Ferreira de Oliveira
Após o fim do combate ao incêndio, algumas espécies – cobras, capivaras e gambas – foram encontradas mortas nas imediações do Parque. Mesmo com todos esses impactos, a gestão do Parque explica que o desequilíbrio ambiental favoreceu algumas outras espécies.
O desequilíbrio ambiental causado pelo incêndio ao desfavorecer algumas espécies, fez o oposto com outras. Por exemplo, fez a quantidade de sapo aumentar
Flávio Guerra Barroso
Parque
O Parque Estadual homenageia o ambientalista Paulo César Vinha, assassinado na atual região do PEPCV no ano de 1993. Paulo César Vinha atuava contra a exploração desorganizada de areia na Barra do Jucu, em Vila Velha.
O PEPCV apresenta uma grande diversidade de ambientes em sua área, como lagoas, em especial a de Caraís, que atua como um fator social e de lazer no Parque. Há dunas e planícies alagadas e inúmeras formações vegetais: a Mata Seca, a Floresta Permanentemente Inundada, o Brejo Herbáceo e a vegetação pós-praia.
Flávio Guerra explica que o Parque abriga espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção como a pimenteira rosa, a coroa de frade, algumas bromélias e o ouriço preto, além de espécies endêmicas como algumas pererecas e libélulas. Ele conta também que o lugar é um dos últimos remanescentes de vegetação de restinga no Estado, que apresenta 13 ambientes distintos, sendo 11 deles encontrados no Parque, contribuindo também na sensação de um ambiente mais fresco na região,