Assédio contra jornalistas: uma realidade triste
O assédio contra jornalistas é uma realidade infeliz no Brasil. O relatório Liberdade de Imprensa no Brasil 2018 da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que foi divulgado em abril, abordou diversos tipos de violências e crimes cometidos contra tal profissional.
Um dos exemplos desse tipo de agressão é a que sofreu a repórter do Esporte Interativo, Bruna Dealtry, enquanto cobria um jogo pela Copa Libertadores. Do lado de fora do estádio de São Januário, fazendo a cobertura da partida entre Vasco da Gama e Universidade do Chile, ela foi beijada por um torcedor vascaíno, sem o seu consentimento, e acabou desabafando ao vivo e nas redes sociais.
https://www.youtube.com/watch?v=hv_bJLvJNX8
De acordo com pesquisas realizadas pela organização Repórter Sem Fronteiras (RSF), o gênero feminino é o mais afetado em relação ao assédio, principalmente aquele com teor sexual. Das jornalistas entrevistadas pelo RSF, dois terços delas sofreram com os assédios, e 25% dessas afirmaram terem sido vítimas por meio online.
Copa do Mundo e os assédios
A Copa do Mundo de 2018 demonstrou ainda mais o ato imoral. Durante reportagens ao vivo, casos de profissionais assediados foram registrados. A jornalista Julia Guimarães, do Grupo Globo, foi vítima de tal ato infeliz, sendo quase beijada por um turista enquanto trabalhava. O caso repercutiu nas redes sociais, e por meio do Twitter, Julia afirmou que aquela situação era triste e vergonhosa.
https://www.youtube.com/watch?v=VrhqRXPsYUw
A jornalista russa Barbara Gerneza também passou por tais momentos de infelizes, sendo vítima de torcedores brasileiros. Ela quase foi beijada por um deles, além de ter sido pivô de um vídeo que a ridicularizava. Os turistas brasileiros gravaram enquanto cantarolavam obscenidades que ela não entendia devido ao idioma desconhecido.
Assédios contra jornalistas homens também aconteceram. Um caso que também repercutiu nas redes sociais foi o do repórter Jeon Gwang-Ryeol, da emissora sul-coreana MBN. O profissional foi beijado por duas mulheres enquanto transmitia uma informação ao vivo. Debates na mídia online aconteceram, defendendo a ideia de que Jeon não tinha sido assediado pois havia sorrido após o ocorrido; o outro lado afirmava o contrário, que o jornalista havia sido vítima de assédio, sim!
https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v=G5VrMmdvAnU
A questão é: enquanto trabalhavam, incontáveis repórteres foram interrompidos pela invasão de espaço e desrespeito a intimidade. De acordo com dados da Fare Network, uma ONG parceira da Fifa, 45 casos de assédio foram concretizados —todos voltados para mulheres — sendo 15 deles destinados a jornalistas. O número exato, segundo a entidade, deve ser muito maior.
No Online
O relatório “Online Harassment of Journalists – Attack of the trolls“divulgado pelo RSF mostra diversos casos de assédio e ofensas dirigidas a jornalistas por diversas partes do mundo voltados para o meio online. Muitos dos exemplos ocorrem na situação em que um profissional do ramo jornalístico faz críticas a uma personalidade política importante e sofre com o feedback dos apoiadores dela e de trolls ( usuário que provoca e enfurece as outras pessoas envolvidas em uma discussão sobre determinado assunto, com comentários injustos e ignorantes).
Um dos casos é o da jornalista indiana Rana Ayub, que ao criticar em seu livro Gujarat Files: Anatomy of a cover o discurso nacionalista do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi’s, ganhou uma enxurrada de críticas e mensagens cruéis por parte de trolls. Ela também foi citada erroneamente e propositalmente em discursos absurdos e falaciosos.
”Fui chamada de prostituta, acompanhante e de escrava sexual da ISIS.” — Rana Ayub.
Segundo o relatório, sofrer ataque virou uma rotina para o jornalistas. Antes eram as organizações que sofriam, mas atualmente o foco está no individual, no profissional e pessoal. O conteúdo do documento é extenso e possui variadas informações sobre o tema.
Ajuda
O meio online provou ter força como propagador do assédio, e com o intuito de guiar os jornalistas sobre tal assunto, principalmente nesse viés digital, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraje) fez uma cartilha intitulada “Como Lidar com Assédio Contra Jornalistas Nas Redes”.
”Pela natureza investigativa da sua profissão, o jornalista está suscetível a críticas. Mas é importante separar a crítica ao trabalho de ofensas à pessoa. Também é fundamental não naturalizar os assédios como se fossem ossos do ofício ser alvo de ataques.” — Como Lidar com Assédio Contra Jornalistas Nas Redes 2018.
No material, há uma abordagem sobre o assunto além da presença de recomendações voltadas para a privacidade nas redes sociais. Os capítulos são divididos em: “controle seus dados”, “não seja surpreendido”, “fui assediado nas rede, e agora?”, “relatos de jornalistas assediados”.
Estas são algumas dicas inclusas:
- Separar sua vida privada da profissional. Crie “perfis pessoais com nomes diferentes daquele que você usa para assinar suas reportagens”.
- Proteger suas contas. “Use senhas longas, que podem incluir letras, maiúsculas e minúsculas, números e caracteres especiais. Você pode formar frases que sejam fáceis de lembrar”.
- Criar alertas sobre novos conteúdos que citem seu nome. “Você pode ser notificado cada vez que seu nome é publicado na web. Em caso de conteúdos
abusivos, pode ser útil saber antes de viralizar”.
Campanha
Em março de 2018, um grupo de jornalistas lançou nas redes sociais a campanha “Deixa Ela Trabalhar”, a qual visava o combate do machismo voltado para tal profissão.
#deixaelatrabalhar pic.twitter.com/jlw0pQz9a2
— #Deixaelatrabalhar (@deixaelatrab) March 25, 2018
Muitas das envolvidas relataram ter sofrido com o assédio e a humilhação só pelo fato de ser mulher. As profissionais voltadas para a área esportiva afirmaram sofrer bastante preconceito, pois na visão de muitos, “lugar da mulher não é no estádio”. A Promotora de Justiça Gabriela Mansur, do @justicadesaia, explica o que as mulheres devem fazer para denunciar a um assédio.